15 de mai. de 2011

O EVANGELHO PRÁTICO

–“Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo” - AGOSTINHO. Uma das coisas dignas de nota no caráter de nosso Senhor é sua maravilhosa quietude de espírito, mormente sua notável calma na presença daqueles que o julgavam mal, e o ofendiam, e o caluniavam. É frequentemente vituperado, mas nunca perturbado; está frequentemente perto da morte, mas sempre cheio de vida. Por certo, ele sentia agudamente todas as contestações dos pecadores contra si, pois numa passagem nos Salmos que se refere ao Messias lemos: "A zombaria partiu-me o coração" (Sl 69.20). Entretanto, o Senhor Jesus não permitiu que seus sentimentos o dominassem, sempre estava calmo e com presença de espírito, e agia com profunda isenção das calúnias e ataques dos seus mais ferrenhos inimigos. Entendo que, uma das razões por ele ser tão auto-suficiente, é que nunca ficava enlevado pelo louvor dos homens. Acreditem nisso: se alguma vez se permitirem ser agradados por aqueles que falarem bem de vocês, serão capazes de se magoarem na mesma medida por aqueles que falam mal de vocês. Mas se aprenderem (e é uma lição demorada para a maioria de nós) que não são servos dos homens mas, sim, de Deus, e que vocês não morrerão se eles os censurarem, então vocês serão fortes e demonstrarão que alcançaram a estatura varonil em Cristo Jesus. Se o grande Mestre se permitisse virar a cabeça pelos “hosanas” da multidão, então, seu coração se desalentaria dentro dele quando exclamavam: "Crucifique-o, crucifique-o!" Mas ele não se sentia enaltecido nem abatido pelos homens; não se confiava nas mãos de homem nenhum, pois sabia o que havia neles.A razão mais interior dessa quietude de coração era sua comunhão ininterrupta com o Pai. Jesus morava à parte, pois convivia com Deus: o Filho do homem, que desceu do céu, continuava habitando no céu, sereno e paciente porque estava enaltecido acima das coisas terrestres, nas santas contemplações da sua mente perfeita. Porque seu coração estava com o Pai, o Pai o tornou forte para suportar tudo o que lhe viesse da parte dos homens. Quem dera que todos nós usássemos essa armadura da luz, a armadura celestial da comunhão com o Altíssimo Eterno. Nesse caso, não teríamos mais medo das más notícias, nem das más ocorrências, pois nosso coração estaria firmado na rocha segura do amor imutável do Senhor.Havia, talvez, outra razão pela maravilhosa compostura do nosso Senhor ao ser atacado com pedradas: seu coração se fixava tanto na sua obra que não podia ser desviado dela, por mais que os judeus incrédulos fizessem contra ele. Essa paixão dominante o levava para adiante dos perigos e sofrimentos, e o levava a desafiar com calma toda a oposição. Entrara no mundo a fim de abençoar as pessoas, e não deixaria de abençoá-las. Se vocês e eu ficarmos completamente ocupados no zelo por Deus, com o desejo de conquistar almas, nada nos atemorizará. Suportaremos toda e qualquer coisa, e não nos parecerá que estamos aguentando coisa alguma; escutaremos calúnias como se nem as ouvíssemos, e suportaremos as adversidades como se não existissem. Assim como a flecha, atirada por um arqueiro forte, desafia o vento ao seguir em sentido contrário e voa rapidamente até ao centro do alvo, assim também nós voaremos em direção ao grande objetivo da nossa ambição compassiva. Bem-aventurado aquele homem que Deus lançou como raio da sua mão, que precisa continuar até cumprir seu destino; bem-aventurado aquele cuja vocação é levar os pecadores aos pés do Salvador.

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